Rodrigo Guedes de Carvalho - A CASA QUIETA

Página 100 - linhas 5 a 17

"A casa está às escuras, mas a vinda da empregada deixou um qualquer aroma a lavanda ou limão, não percebe bem. Mas é agradável. Deixa o sobretudo no escritório, a empregada deixou-lhe a correspondência em cima da secretária. Verifica por alto. A maioria contas, amanhã pensa nisso. Avança pelo corredor com o cão atrás. Vai acendendo as luzes. No quarto senta-se na cama, descalça-se. Os sapatos andam a magoá-lo. O cão senta-se, mesmo em frente, de orelhas para trás. Quer festas. Ele sorri, lá lhe faz as festas. Vê as horas no relógio do despertador. Pensa ligar à mulher, saber se está muito atrasada. Vai à cozinha, procura no frigorífico indícios de um jantar para preparar. Gostava de saber cozinhar. Liga a televisão. Uma novela brasileira, outra portuguesa, frases em baixo, a correr, um chamariz para as notícias daqui a pouco."

O meu comentário:

"Primeiro estranha-se depois entranha-se"

A frase publitária da autoria de Fernando Pessoa para o lançamento da Coca Cola em Portugal (infelizmente rejeitada) aplica-se na perfeição a este livro. Quando se começa a ler, estranha-se, parece que nos perdemos ... mas ao avançar na leitura, fica-se irremediavelmente preso.

É um livro de sentimentos sem ser sentimental. Tem todas as nuances... amor, infidelidade, loucura, incompreensão... morte... enfim, um livro de vida!!!

Recomendo.

As linhas que transcrevo podem não despertar muito interesse, mas tive que me cingir à página 100, a tal que foi aconselhada pela lançadora desta ideia (beijinhos, garota de Ipanema!)