RESIDENCIAL MEDROSA

Águas Correntes Quentes e Frias, Comida Caseira, Tratamento de Roupas - Não tem Livro de Reclamações

sexta-feira, abril 30, 2010

Mais Uma Página 100

«O pai recebera a notícia da morte com serenidade. Era o que se esperava de um parente de luto, mas Amélia nunca tinha visto aquele brilho nos seus olhos. Fazia-se justiça, e de certeza que pensava no orgulho que a sua mãe sentiria nele, ela que fora a única que realmente acreditara que o lugar pertencia por direito ao seu filho mais velho, ela que ficara sozinha numa cidade em guerra para tentar fazer cumprir a vontade do sogro. Pensava no orgulho do seu avô, e Amélia apostava que lá do céu, onde estava, o rei Luis Filipe fazia figas para que os livros de História não o registassem como o "último rei de França". Amélia quase que apostava que, a esta hora, enquanto recebia os cumprimentos dos monarcas europeus e dos seus correligionários, teria escondido no bolso o pequeno canivete, que a avó Amélia lhe dera após a morte do avô, com a recomendação de que o utilizasse bem - que estupidez pensar nisso agora, mas os pensamentos, já aprendera, surgem sem serem chamados, e sem que os consigamos fazer obedecer a uma ordem preestabelecida.

Andar em Paris dava-lhe uma satisfação imensa, não se cansava de olhar para os edifícios, para as pontes sobre o rio, para as torres das igrejas, e pensar que amava profundamente esta sua cidade, este seu país. Mas agora tinha pressa. Queria dar os parabéns ao pai, queria ser a primeira a lançar-lhe sobre o colo o jornal que comprara na rua, e onde o seu nome vinha impresso. E queria ser ela a abrir a porta ao tio Aumale, que certamente acorreria imediatamente ao palácio da rua de Varenne, que a duquesa de Galliera colocara ao serviço daquele que já considerava rei de França, por entender que não podia, nem devia, continuar escondido numa vila normanda.

Estava ao fundo da rua quando o viu sair da carruagem. Estacou por segundos e respirou fundo. Aumale vinha vestido a rigor. Como se fosse engolida pelo tempo, deu por si, com quatro ou cinco anos, a olhar para a casaca, as calças, o chapéu e as faixas que secavam ao sol na imensa relva, verde, verde, de Orleães House, mesmo ao lado da sua querida York House. A memória era tão viva que parecia absolutamente real: o tio, muito direito, a brisa a levantar o seu cabelo arruivado, tão parecido com o de Phil, e o braço a apontar para cada uma das peças, enquanto lhe explicava o simbolismo das cores da casaca vermelho-viva com a sua gola alta, bordada a dourado, das faixas de tons diferentes para diferentes ocasiões, do chapéu de plumas pretas, e a história das dezenas de medalhas e condecorações. A farda de um oficial do exército francês, que vestira em serviço na Argélia, onde fora governador, e que estendia ao calor do Verão para a libertar do bolor do Inverno inglês.»


Isabel Stilwell
D. AMÉLIA
A rainha exilada que deixou o coração em Portugal
a esfera dos livros

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4 Comentários:

Às 9:02 da tarde , Blogger professora à beira de um ataque de nervos... disse...

Andas a ler muito...

 
Às 9:14 da tarde , Blogger Gaivota Maria disse...

Boa sugestão. A rainha D.Amélia foi sempre uma referência para mim: ainda conheci viva uma Rainha de Portugal. Melhoras. Aproveite para ler. Um abraço

 
Às 11:24 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Gostei muito de ler este livro.Tenho vários livros ligados à família real.Fazia falta aos políticos estas leituras mas duvido que percebessem alguma coisa.


mi

 
Às 6:08 da tarde , Blogger giesta disse...

Já estou quase no fim... estou a adorar!
Tenho lido bastante e sempre o fiz, só que como este blogue está um bocado parado, resolvi reactivar a "página 100" e nota-se mais...
Estou muito melhor! E decidida a ir descansar para a "minha ilha" daqui a umas duas ou três semanas... espero ter bom tempo!
Bom fim-de-semana!

 

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