RESIDENCIAL MEDROSA

Águas Correntes Quentes e Frias, Comida Caseira, Tratamento de Roupas - Não tem Livro de Reclamações

quinta-feira, maio 27, 2010

A Página 100...

«A casa de Lisboa era feita de dois pequenos edifícios que comprara por preço irrisório e que ligara interiormente, medida que não era nova nas habitações no Porto - na Bandeirinha, ou em Miragaia -, cujas casas se encarniçavam nesse enlace barroco de passadiços e vielas, como gargantas e tripas que a germinavam.

- Dunsinane - disse ele. E teve o pressentimento que a vida dos homens se deteriora quando há nelas um sinal, e logo tudo pertence às trevas; porque, Macbeth ou não Machbeth, o homem vive em pecado, sonha e completa-s no pecado. Estranho pensamento para um clown com calções de banho largos demais e cujas pregas molhadas despistavam as suas exíguas formas. Não suportava a moda que favorece e exibe o corpo, os jeans, as camisas com pinças e que vira pela primeira vez aos jovens de Brindisi, putões de olhos cândidos, ancas finas como dardos. Andavam de cá para lá na rua de Brindisi onde se estendem os cafés; e aquele ar portuário de Brindisi, liogado à portuária margem de Patras, era como as suas casas, com fios que as seguram entre um mar de esquecimento, azul, cristalino, pecador, e boiam nele as medusas, como os pecados dos homens, ou tão informes se as toca a realidade arcaica! Sentado na nocturna Brindisi, ele pensara ser talvez Alcibíades tendo perdido a amizade de Sócrates; e, como ele, ia pelos caminhos acutilar as estátuas de Apolo, destruir-lhes o sexo, os brancos ovos do sexo tão provocadores, porque tinha perdido o mestre, e ele se sepultava num vaso de veneno - antes que descobrir um amor como uma rosa de Maio em tão disforme rosto. Porque os homens têm pudor da sua fealdade, mais do que as mulheres. Para elas tudo era permitido, conceba o ventre, estremeçam as entranhas; mas o homem não.
Senão, era ver Rosamaria, com o seu ar de bruxa em sabat, com aquele riso carnívoro que só de ouvi-lo era como um galope de garanhões e um voo de pretas aves em eucaliptos; como se trocassem moradas, rotas, mapas dos desejos.»
Agustina Bessa Luís
OS
MENINOS
DE OURO
Romance
3ª EDIÇÃO
Lisboa
GUIMARÃES & Cª EDITORES
1983
Não consigo concentrar-me e perco-me no labirinto das palavras e personagens da Agustina... sendo ela uma escritora tão conceituada, o defeito só pode ser meu... se calhar... muita areia para a minha camioneta!!!

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7 Comentários:

Às 3:17 da tarde , Blogger Gaivota Maria disse...

Que felicidade! Afinal há mais gente além de eu própria que se perde na escrita da Agustina. Eu até aco que quem diz bem dela é só para dar uma de letrado-intelectual. Obrigada irmão de Porto Santo

 
Às 8:39 da tarde , Blogger Quarto com vista para o mar disse...

Para dizer a verdade, também tentei ler uma vez a Agustina Bessa Luís, e desisti a meio... a Sibíla.

 
Às 9:05 da tarde , Blogger giesta disse...

Que bom, Gaivota Maria e foi uma sorte ter que ir entregar os livros hoje à biblioteca e assim safei-me de acabar de o ler... Cheguei até à página 130 e já sofri muito!...
Beijos

 
Às 10:03 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

COMO EU GOSTO DE LER G.MARIA!!!!!!


C.DE LEÇA

 
Às 10:41 da tarde , Blogger giesta disse...

Condessa de Leça, a sério? gostas da Agustina?! E não te perdes naqueles labirintos?!
Beijos

 
Às 10:57 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Não me fiz entender gosto de ler-G.MARIA.
Agustina,leio e vou-me perdendo nos diversos labirintos,mas é uma grande escritora ,sem qualquer dúvida.


CONDESSA DE LEÇA

 
Às 12:29 da tarde , Blogger giesta disse...

Ah! Já percebi.. e já somos duas (haverá muitas mais) a gostar de ler a Gaivota Maria.
Quanto à Agustina eu também acho que sim, tem provas dadas e uma obra que testemunha o seu valor, mas não tem, de todo, a minha preferência. Também a ela deve ser-lhe indiferente!...

 

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